PESQUISA DE CLIMA E CULTURA DE SEGURANÇA: UMA POSSIBILIDADE DE LEVANTAMENTO DE RISCOS PSICOSSOCIAIS

Autor(a):
Mariane Mesquita

Publicação:
Nada consta sobre a publicação.

Esse texto nasce de uma discussão, atualmente em alta, a respeito da nova demanda do mercado: adequação das empresas à nova versão da OHSAS 18001, a qual aborda no item 4.3.1 (Identificação de perigos, avaliação de riscos e determinação de controles) o item “C” que cita “Comportamento humano, capacidade e outros fatores humanos”, ou seja, o mapeamento e gerenciamento de fatores psicossociais nas organizações de trabalho.

 

A questão inicial é a discussão sobre como a Pesquisa de Clima e Cultura de Segurança pode auxiliar no mapeamento dos fatores e riscos psicossociais nas organizações de trabalho.

 

Hoje em dia é de extrema importância que as empresas conheçam, com suporte técnico, a visão que os trabalhadores têm dos pilares que sustentam os comportamentos dos indivíduos na organização. Essa ação possibilita mapear as variáveis que influenciam, positiva ou negativamente, o comportamento dos indivíduos em relação à Segurança. A partir desse levantamento permite-se a elaboração de estratégias que reforcem comportamentos individuais e coletivos em Segurança, bem como promover ações para que novos comportamentos preventivos aconteçam na organização. Até então, estamos falando de uma Pesquisa de Clima e Cultura de Segurança, que várias empresas já fazem.

 

Para uma realidade de números, metas, indicadores e resultados, falar de fatores psicossociais é entrar em um terreno obscuro e de difícil compreensão. Uma vez que esses fatores não são facilmente medidos por números ou revelados em planilhas, definir esse conceito e trazê-lo para a prática das indústrias merece certa atenção.

 

Wiliam Montante (1999) cita em seu artigo, The Psychosocial Zone, a definição do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos (OSHA) para fatores psicossociais: “Características do ambiente de trabalho que afetam relações interpessoais entre pares, empregados e seus supervisores, e entre empregados e a organização”. É possível ainda, citar a definição de Martín y Pérez (1997) citado por MELIA (2006) como “aquelas condições que se encontram presentes em uma situação laboral e que estão diretamente relacionadas com a organização, conteúdo do trabalho, realização da tarefa e que têm capacidade de afetar tanto o bem-estar quanto a saúde (física, psíquica ou social) do trabalhador como o desenvolvimento do trabalho”.

 

Dessa forma, pode-se definir fatores psicossociais como variáveis resultantes da interação entre o indivíduo e o ambiente, que influenciam, positiva ou negativamente, na sua saúde (física ou psíquica), na realização da tarefa ou desenvolvimento do trabalho e que afetam a relação do indivíduo com seus pares, lideranças ou com a organização.

 

Para tratar do tema “risco”, toma-se o conceito trazido pela OHSAS 18001, a qual define: “combinação da probabilidade de ocorrência de um evento perigoso ou exposição(ões) com a gravidade da lesão ou doença que pode ser causada pelo evento ou exposição(ões).”

 

Nesse sentido, os fatores de risco psicossociais podem também ser definidos, segundo Guimarães (2006), como aquelas características do trabalho que funcionam como “estressores”, ou seja, implicam em grandes exigências no trabalho, combinadas com recursos insuficientes para o enfrentamento das mesmas. Dessa maneira podemos enxergar, de um lado, a organização exigindo alto desempenho de seus colaboradores para sua própria sobrevivência no mercado e, do outro lado, um colaborador que tem dificuldade em sua competência técnica ou pessoal para corresponder a essa expectativa. Um dos estressores são os riscos psicossociais, e esses podem resultar dessa diferença.

 

Outra definição de riscos psicossociais no trabalho simplificada é dada por Cox e Griffiths (1995) apud Guimarães (2006): “todos aqueles aspectos do desenho e gerenciamento do trabalho e os contextos social e organizacional que têm potencial para causar dano físico ou psicológico”.

 

Tratemos aqui, então, dos fatores psicossociais que ameaçam negativamente a saúde, o desenvolvimento do trabalho ou as relações interpessoais dos indivíduos. Sendo assim, tomando como base os conceitos previamente apresentados, esses fatores podem ser classificados como riscos psicossociais, uma vez que oferecem riscos para a saúde (física ou psíquica), na realização da tarefa ou desenvolvimento do trabalho e afetam a relação do indivíduo com seus pares, lideranças ou com a empresa.

 

De maneira a englobar as variáveis que a Pesquisa de Clima e Cultura de Segurança trabalha (Relação do indivíduo com a liderança, relação do indivíduo com os pares, relação do indivíduo com a organização e a auto-incidência em segurança), entende-se os riscos psicossociais como fatores psicossociais, o que diferencia esses dois conceitos é a maneira com que são percebidos pelos indivíduos que compõem a organização, considerando a potencialidade de causar danos a esses. A presença desses na organização não define se é ou não um risco. Para ser um risco psicossocial ele precisa oferecer potencial para gerar danos emocionais, sociais, cognitivos ou à saúde do indivíduo.

 

Quando se fala em levantamento de riscos psicossociais, por ser um conceito muito amplo, não se pode partir das possibilidades de risco para investigar se elas ocorrem ou não na organização. Investigando as quatro variáveis da pesquisa de Clima e Cultura de Segurança pode-se levantar os aspectos que estão latentes para os indivíduos que compõem a organização e assim checar as bases dessa percepção, considerando os fatores que influenciam a percepção dos indivíduos (psico-sociais, fisiológicos e cognitivos). Além disso, os fatos analisados também fornecem dados para levantamento de hipóteses e conseqüentes comprovações ou refutações.

 

Sendo que essa Pesquisa baseia-se em fatos, é necessário que as questões levantadas sejam apresentadas de maneira mensurável. Dessa forma, quantitativa e qualitativamente, trabalha-se com análise documental, questionários, entrevistas formais e informais, grupos focais e observações em área, a fim de levantar os dados que servirão de subsídio para a construção de um parecer técnico a respeito dos riscos psicossociais da organização em estudo.

 

A partir da percepção trazida pelos trabalhadores é que se pode elencar quais fatores psicossociais apresentam-se como riscos e a partir disso gerar um plano de ação para que esses sejam controlados e tratados.

 

O terreno de fatores e riscos psicossociais ainda é, de maneira geral, uma área pouco explorada. Porém, à medida que os mesmos são levantados e tratados, explicitam-se os benefícios de abordar aspectos humanos na segurança do trabalho e direciona-se para uma cultura preventiva cada vez mais robusta. Quem sabe, no futuro, esse mapeamento não possa também ser feito em aspectos extra-laborais? Fica o desafio de fazer da segurança uma cultura não só no trabalho, mas também nos outros aspectos da vida de todos.

 

MONTANTE, William M . The psychosocial zone. Professional Safety Article. June, 1999 .

 

GUIMARÃES, Liliana A. M. 2º Congresso Internacional sobre Saúde Mental no Trabalho. Fatores psicossociais de risco no trabalho e sua repercussões na Saúde Mental do Trabalhador. 2006.

 

Meliá, J. L., Nogareda, C., Lahera, M, Duro, A., Peir[o, J. M., Salanova, M. y Gracia, D. Principios comunes para la evaluacion de riesgos psicosociales em la empresa. Em Meliá, J. L., Nogareda, C., Lahera, M, Duro, A., Peiró, J. M., Salanova, M., Gracia, D., de Bona, J. M., Bajo, J. C. y Martínez-Losa, F.: Persectivas de Intervención em Riesgos Psicosociales. Evaluación de Riesgos. Barcelona: Foment Del Treball Nacional. Pags 13-36. 2006.

 

OHSAS 18001:2007 – Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho – Requisitos.

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