AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E OS ACIDENTES DE TRABALHO

Autor(a):
Camila Bounassar

Publicação:

Avaliações Psicológicas são comumente utilizadas nos diversos meios organizacionais para avaliar traços de personalidade, perfil de candidatos a uma vaga e diagnóstico de aspectos psicológicos.

A procura dos profissionais de segurança e de recursos humanos pelas avaliações psicológicas com a finalidade de verificar o perfil de trabalhadores com propensão a sofrerem acidentes de trabalho tem crescido muito nos últimos tempos.

Por esta razão este artigo traz à luz os problemas éticos e técnicos que envolvem o uso de testes psicológicos na prevenção de acidentes de trabalho.

Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica é uma atividade profissional questionada e controvertida na Psicologia, levando a discussões da cientificidade de testes psicológicos e sua padronização.

O Conselho Federal de Psicologia determina que os testes psicológicos devem ser avaliados segundo parâmetros específicos, com revisão periódica de condições, métodos e técnicas utilizadas para avaliação.

O Conselho tem, inclusive, baixado normas orientando sobre a utilização dos testes psicológicos.

Os Testes Psicológicos são de uso privativo do Psicólogo, que o utiliza como instrumento de trabalho, e estes por sua vez devem ser fundamentados cientificamente e aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia.

O uso de testes em avaliação psicológica, como instrumento de trabalho, serve para orientar uma ação mais segura e adequada do psicólogo em seu trabalho, não somente utilizá-lo como diagnóstico final para traçar perfil, características de personalidade nem mesmo detectar se um indivíduo possui perfil acidentário.

Outras técnicas devem ser utilizadas em conjunto para uma melhor análise do indivíduo que está sendo avaliado. Destacam-se como ferramentas complementares, o uso de entrevistas focais, observação, dinâmicas de grupo, provas situacionais e avaliações periódicas.

O Fator Humano como Causa nos Acidentes de Trabalho

Muitos dos acidentes são comumente atribuídos a falhas humanas ou ao fator humano representado por desatenção, descuido, brincadeira, despreparo, incapacidade de quem se acidentou.

Autores estudiosos do comportamento humano nos acidentes de trabalho, mostram que para haver negligência ou desatenção de um trabalhador, houve anteriormente uma série de decisões, atitudes, comportamentos organizacionais que criaram condições para que o acidente ocorresse.

Os acidentes, portanto, não são atribuídos a uma única causa, este fenômeno é multicausal, determinado por fatores que influenciam os indivíduos, alterando assim sua conduta frente às situações do dia – a – dia.

Entender as causas dos acidentes é entender com maior clareza o comportamento de quem se acidenta, pois o comportamento é determinado tanto pela relação do homem com o meio como por suas características internas.

O aspecto cognitivo incide na questão da segurança de uma pessoa. Quando, por exemplo, características exigidas pela tarefa a ser utada não são de conhecimento da pessoa que a realizará, ela não terá todas as informações dos perigos, riscos, procedimentos, controles a adotar para realizar a atividade de forma produtiva e segura para si e para os colegas.

Acidentes também são decorrência de fatores como máquinas inadequadas e ambientes desfavoráveis.

Doenças na família e problemas financeiros, evidentemente influenciam o comportamento das pessoas.

Para entender o processo dos acidentes, é importante ressaltar que o erro humano resulta na interação homem – trabalho ou homem – ambiente onde estão implícitos três elementos: uma ação variável, uma transformação do ambiente ou máquina que não atenda a determinados critérios e o julgamento da ação humana frente a esses critérios (Ilda, 2003 p.30).

O erro humano acontece quando este percebe o ambiente de forma distorcida da realidade, seja por falta de informação do ambiente, percepção baixa dos perigos e riscos envolvidos na atividade e no ambiente, omissão dos fatos e de incidentes, falha em sua memória, erro em sua avaliação, falta de conhecimento de um procedimento, excesso de confiança e erro em seu processo de escolha.

A experiência nas empresas mostra que muitos dos acidentados conhecem os perigos, riscos e procedimentos corretos a adotar, mas por alguma razão escolhem comportarem-se de forma inadequada.

O repertório de comportamentos dos indivíduos é determinado por escolhas deles mesmos e isso é que vai expô-los aos riscos em seu ambiente de trabalho.

Alguns estudiosos argumentam que os acidentes de trabalho não estão associados a características de personalidade, não podendo desta forma, serem as pessoas submetidas a avaliações psicológicas para serem avaliadas se possuem ou não propensão a sofrerem acidentes de trabalho.

Ilda (2003) em seus estudos procura demonstrar que existem pessoas com maior propensão a se acidentarem, porém a teoria mais aceita atualmente, é que as pessoas mais propensas a sofrerem acidentes existem de fato, porém não são dotadas de características permanentes que as tornam mais susceptíveis a sofrerem acidentes de trabalho.

Dela Coleta (1991) menciona o fato de que muitos autores têm defendido opiniões que realçam a importância dos fatores ou traços de personalidade na determinação de acidentes, mas isto não foi ainda plenamente determinado. Quando se avalia a personalidade de um indivíduo, está sendo avaliada a organização dinâmica de seus aspectos biológicos, físicos, psíquicos, sociais, mentais e espirituais de sua interação com o meio externo.

Considerando que o comportamento de um indivíduo pode ser alterado mediante as situações que ele enfrenta no dia – a – dia, testes psicológicos não têm condições de detectar todos esses aspectos.

Prevenindo Acidentes de Trabalho

As condições que podem favorecer um comportamento mais seguro e adequado envolvem um processo educativo em segurança e saúde tornando dessa forma o ambiente mais seguro e saudável, para prevenir acidentes no ambiente de trabalho.

Considerando que os acidentes são causados por inúmeros fatores, descritos ao longo deste artigo, ressalta-se a importância de um trabalho preventivo envolvendo todos os fatores influenciadores na ocorrência de um acidente.

As atividades de prevenção poderão envolver modificação no ambiente de trabalho, desde a manutenção e inspeção dos equipamentos e máquinas, de forma sistemática, investimento em equipamentos de proteção individual e coletivo adequados e em boas condições de uso para as diversas atividades e uma melhor gestão do sistema de segurança, clima, cultura e qualidade de vida dos trabalhadores.

É necessária uma revisão nos processos de contratação de funcionários a fim de selecionar os profissionais mais adequados para o nível e tipo de trabalho a que se destinam seus serviços, bem como uma boa capacitação do funcionário quando inicia na empresa, através de participação em treinamentos específicos e gerais, para melhorar sua formação.

Outra contribuição para minimizar os riscos de acidentes no ambiente de trabalho é poder investir na qualidade de vida das pessoas, através de campanhas, ações ocupacionais envolvendo o trabalhador e seus familiares para resolução e prevenção nos aspectos sociais, psicológicos, médicos e econômicos.

O sistema de gestão da empresa também é um ponto a ser considerado como influenciador, a forma como são geridas as pessoas, sua relação com colegas de trabalho, relação com lideranças, produção versus segurança, pontos de insalubridade.

Trabalhar estes aspectos é melhorar o ambiente físico, social e organizacional, pois o objetivo é a satisfação pessoal e profissional do trabalhador e sua melhor saúde laboral.

Conclusão

O uso de testes em avaliação psicológica deve ser de uso privativo do Psicólogo, servindo como um instrumento orientador em sua prática de atuação.

Este por sua vez deve ter aprovação do Conselho Federal de Psicologia mediante revisão periódica de suas condições, métodos e técnicas para uma atuação mais segura e adequada.

O uso de testes psicológicos para se detectar perfil acidentário é comumente requisitado por profissionais de segurança e recursos humanos, porém não existe relação simples e linear entre características de personalidade e os acidentes de trabalho.

A personalidade de um indivíduo é determinada pela relação que ele estabelece com seu meio. Pode-se dizer que seu comportamento pode ser alterado mediante as situações que ele enfrenta em sua rotina de trabalho e, um teste psicológico não tem condições de poder detectar todos esses aspectos.

As condições que podem favorecer um comportamento mais seguro e adequado envolvem um processo educativo em segurança e saúde, tornando desta forma o ambiente mais seguro e saudável para prevenir acidentes no ambiente de trabalho.

Nos acidentes de trabalho deve-se identificar todas as variáveis envolvidas no comportamento para poder introduzir ações corretivas e evitar conseqüências futuras e ações repetitivas.

Melhorando o ambiente, o clima, a qualidade de vida, os procedimentos, o conhecimento e o acompanhamento periódico, estão sendo oferecidas condições para que os trabalhadores possam atuar de forma mais produtiva e segura, minimizando a ocorrência dos acidentes de trabalho.

 

Bibliografia 

 

IIDA, Itiro. Ergonomia. Projeto e Produção. 9ª reimpressão. São Paulo: Editora Afiliada, 2003.

 

BLEY, Juliana. Comportamento Seguro. Editora Sol: Curitiba, 2006

 

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CRUZ, Roberto Moraes; ALCHIERI, João Carlos; SARDA JR, Jamir J. Avaliação e Medidas Psicológicas. Casa do Psicólogo: São Paulo, 2002.

 

NOYA, Janete Al Makul Bello; GARCIA, Deomara Cristina Damasceno. Personalidade Humana. Edicon: São Paulo, 2002

 

GELLER, E. Scott. The Psychology of Safety Handbook. 2ª ed. Lewis Publishers: 1942

 

MACHADO, Adriane Picchetto; LODDO, Tatiana; MORONA, Valeria Cristina. A crescente procura da sociedade pela Avaliação Psicológica. Revista Contato – CRP 08, ano 27, nº142. Curitiba, 2007, p.14 e 15.

 

Ofício Circular nº 0165-06/ DIR – CFP – Revista Contato – CRP 08, ano 09, nº 51, Curitiba, 2007. p.17.

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