CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA AS INTERVENÇÕES EM MEIO AMBIENTE

Autor(a):
Isabella Bello Secco

Publicação:

Artigo publicado na Revista Contato em novembro de 2008.

 

 

Atualmente somos bombardeados com notícias referentes ao meio ambiente e que nos revelam uma situação assustadora que exige uma mudança dos comportamentos e valores da sociedade frente a tais questões. Pode-se dizer que 2006 foi o ano em que a humanidade tomou consciência de que a crise ambiental é real e seus efeitos, imediatos.

 

Uma prévia do relatório anual da Organização Metereorológica Mundial, órgão da ONU que avalia o clima na Terra, divulgado em dezembro de 2006, demonstra que este ano foi marcado por recordes sombrios no terreno das alterações climáticas e catástrofes ambientais. O aumento repentino da temperatura planetária e das alterações no meio ambiente se deve à ação humana, com escassa contribuição de qualquer outra influência da natureza. E as alterações climáticas são apenas algumas das conseqüências desta crise na relação homem ambiente, outras inúmeras podem ser mencionadas como, por exemplo, a escassez de água potável, redução na biodiversidade global, extinção de algumas espécies, piora na qualidade do ar, incêndios, diminuição das áreas verdes, efeitos adversos sobre a produção de alimentos e maior transmissão de doenças.

 

Muitos são os movimentos que já vêm ocorrendo no sentido de tentar reverter este quadro e muitas são também as controvérsias referentes ao prognóstico do nosso planeta. Porém, mesmo diante de tantos desencontros, uma coisa é certa: a sociedade atual está sendo convocada a repensar suas formas de se relacionar e utilizar o meio ambiente no qual estão inseridos, uma vez que, se tais mudanças não ocorrerem de forma urgente, não será somente o futuro das próximas gerações que estará em jogo, pois a humanidade já vem sofrendo sérias conseqüências da crise ambiental.

 

Durante anos várias ciências se preocuparam em entender e conhecer os fenômenos naturais e verificar quais seriam as conseqüências que a má utilização dos recursos naturais poderia acarretar para o planeta e todas as formas de vida nele existentes. Diante das diversas questões percebidas envolvendo a relação homem – meio ambiente, a Psicologia também é convocada a direcionar esforços e contribuir com tais estudos uma vez que é a ciência que tem como objeto de estudo o comportamento humano, vindo assim a contribuir e muito na atuação interdisciplinar considerando que a união de conhecimentos técnicos com os psicológicos possibilitam uma atuação mais efetiva em projetos que objetivem a mudança de comportamento e percepção das pessoas frente ao meio ambiente que as cerca. Diante deste contexto, a Psicologia Ambiental vem contribuir com muitos de seus conceitos e, as intervenções voltadas para a preservação ambiental, se tornam um campo urgente e emergente de atuação profissional do psicólogo em nossa sociedade.

 

De acordo com Gifford (1997, p.1) citado por Pinheiro e Güinter (2008, p.317):

 

“Psicologia Ambiental é o estudo das relações entre as pessoas e seus cenários físicos. Nestas relações, as pessoas mudam o ambiente e seus comportamentos e experiências são modificados pelo ambiente. Ela envolve a pesquisa e prática dirigida à produção de edificações mais humanas e o melhoramento de nosso relacionamento com o ambiente natural”.

 

Acrescentando a tal perspectiva, Leff (2001, p. 187), afirma que a psicologia ambiental tem por objetivo analisar as formas como as condições ambientais afetam as capacidades cognitivas, mobilizando os comportamentos sociais que causam impacto à saúde mental dos indivíduos; além de contribuir para a análise das percepções e interpretações das pessoas sobre o meio ambiente.

 

A psicologia ambiental vincula-se ao terreno da psicologia social no estudo da formação de uma consciência ambiental e seus efeitos na mobilização dos atores sociais.

 

A crescente demanda ecológica na atualidade pode ser considerada não apenas em resposta a uma necessidade crescente de preservação ao meio ambiente, mas uma necessidade de respeito à própria humanidade, e não se refere apenas ao coletivo do homem, mas também à subjetividade inerente ao mesmo (MARÇOLLA, 2002, P.125).

 

É importante destacar que noções ecológicas são repassadas e interpretadas desde a infância e considerá-las supõe considerar aspectos e parâmetros diversos. Para Bruner (1998, p.95), as crenças e intenções derivam do que ele considera o conceito fundamental da psicologia humana, a construção de significados e os processos e transações que se dão nessa construção. Desta forma, pode-se afirmar que a vida somente parece compreensível pelos indivíduos pela lente de algum sistema cultural de interpretação.

 

Uma das dificuldades encontradas parece ser a existência de uma “falha” impressão de que os recursos naturais sejam infinitos. Contudo, o risco eminente de escassez dos recursos naturais, exige uma mudança urgente de cultura de toda a sociedade; mudança que exige intervenções a médio e longo prazo por se tratar de um processo bastante complexo. E este objetivo pode ser alcançado por meio de diversas ações, sendo uma delas a educação ambiental, que é um instrumento de tomada de consciência do fenômeno do subdesenvolvimento e de suas implicações ambientais, que tem responsabilidade de promover estudos e de criar condições para enfrentar esta problemática eficazmente, portanto, se constitui numa ação conscientizadora que tem por objetivo levar o homem, nos seus diferentes papéis, a reassumir sua condição de comportamento no ecossistema que a civilização moderna vem negando e que, numa visão prospectiva, poderá inviabilizar sua própria sobrevivência (GUIMARÃES, 1995, p.20).

 

Amplamente pode-se afirmar que a educação traduz-se por uma das maneiras de melhorar os comportamentos pró-ambientais sobre o planeta Terra. Se for considerada a crise ambiental em que o mundo se encontra, evidencia-se a necessidade de uma educação que amplie as teorias acerca do mesmo, como, por exemplo, deve-se ultrapassar a idéia de não finitude dos recursos naturais, moderando os padrões de consumo dos mesmos, diminuindo as fontes de poluição e desenvolvendo novas formas de produção menos agressivas e nocivas ao ambiente.

 

A educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, na mudança de comportamento, no desenvolvimento de competências, na capacidade de avaliação e na participação dos educandos de todas as idades e inseridos nos mais diversos contextos. A relação entre meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais desafiador, demandando novos saberes para apreender processos sociais cada vez mais complexos e riscos ambientais cada vez mais intensos. Assim, a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental.

 

No contexto organizacional não é diferente, sendo ele também reflexo de toda esta cultura e valores da sociedade. Os Sistemas de Gestão Ambiental hoje são uma variável importante no planejamento estratégico considerando o contexto globalizado que exige cada vez mais que sejam revistas as formas de manejo com o meio ambiente. Entre os fatores que determinam tais exigências, pode-se incluir os movimentos ecológicos, as mudanças no perfil dos consumidores, que estão cada vez mais preocupados com a origem dos produtos que adquirem, além das pressões do regime regulatório internacional e da necessidade urgente de que a sociedade se desenvolva de uma forma sustentável, ou seja, se desenvolva de forma a ser capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.

 

A Psicologia pode contribuir no contexto organizacional auxiliando no processo de desenvolvimento, implantação e manutenção de sistemas de gestão ambiental (inclusive nos casos de certificação ISO 14001) além de desenvolver projetos de educação ambiental, pesquisas de percepção e apropriação dos ambientes e recursos, auxílio no manejo dos ativos e passivos ambientais resultantes do processo, entre outros. De acordo com Macêdo e Oliveira (2005), cabe ao psicólogo atuar na sensibilização dos trabalhadores envolvidos, providenciar o desenvolvimento dos profissionais que serão os gestores dos programas e também desenvolver mecanismos que facilitem as mudanças culturais que facilitarão o processo de implantação dos projetos e minimizarão as resistências a eles, promovendo a divulgação destes e favorecendo a comunicação entre todos os setores da organização integrando os cuidados ambientais a rotina operacinal.

 

É importante que as organizações reconheçam a gestão do meio ambiente como uma prioridade, como fator determinante do desenvolvimento sustentável e ainda estabeleçam políticas, programas e procedimentos para conduzir as atividades de modo ambientalmente seguro (MACÊDO; OLIVEIRA, 2005). Com isso as oportunidades no mercado em rápido crescimento serão maiores, além de haver a diminuição do risco de responsabilização por danos ambientais, redução de custos, melhoria da imagem da empresa, maiores chances de consolidação no mercado, desenvolvimento de dimensões éticas e morais no contexto organizacional e, à sociedade, uma expectativa de vida mais saudável e longeva.

 

Contudo, fica destacada a importância de que os psicólogos busquem a inserção nas atuações relacionadas com as questões ambientais já que, além de ser uma área bastante evidenciada e sedenta de ações, são muitas as contribuições a serem dadas por este profissional em equipes interdisciplinares interessadas em desenvolver projetos voltados ao meio ambiente. São muitos os desafios diante de um caminho novo a se construir, porém, algumas iniciativas já surgem com sucesso. Sintam-se convidados, e por que não dizer, “convocados” a atuar e contribuir para essa mudança que não é apenas um “modismo”, mas sim uma questão de sobrevivência; mais que isso, implica em contribuir para sobrevivência com qualidade de vida desta e das futuras gerações.

 

BRUNER, J. A realidade mental: Mundos possíveis. Porto Alegre: Artes médicas, 1998.

 

GÜINTER, Hartmut; PINHEIRO, José de Queiroz. Métodos de Pesquisa nos Estudos Pessoa-Ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

 

GÜINTER, Hartmut; PINHEIRO, José; GUZZO, Raquel. Psicologia ambiental: entendendo as relações do homem com seu ambiente. Campinas: São Paulo, 2004.

 

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas, São Paulo: Papirus, 1995.

 

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

 

MACÊDO, Kátia Barbosa; OLIVEIRA, Alberto. A gestão ambiental nas organizações como nova variável estratégica. RPOT,v.5,n.1, jan- jun /2005, p.129-150.

 

MARÇOLLA, Bernardo Andrade. Os desafios da psicologia frente à questão ecológica: rumo à complexa articulação entre natureza e subjetividade. Psicologia, ciência e profissão. São Paulo, v.22, p.120-133, 2002.

 

MOSER, Gabriel. Psicologia Ambiental. Estudos de Psicologia. Natal, v.28, n.03, p.121-130, Ago/1997.

 

Baseado nos trabalhos acadêmicos:

Projeto “Terra: Planeta Água” – Autoras: Daniele Barp, Fernanda Rosseto, Isabella Bello Secco e Janaína Azevedo Rêgo sob a supervisão da professora Maria Cristina N. de Carvalho (2006).

Relatório de Conclusão de Curso: Projetos “Agentes da Água” e “Super-Heróis da Natureza” – Autoras: Caroline Fernanda Rocha, Daniele Barp e Isabella Bello Secco sob a supervisão de Maria Cristina N. de Carvalho (2007).

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