INTERVENÇÃO EM PSICOLOGIA AMBIENTAL: UMA EXPERIÊNCIA INOVADORA

Autor(a):
Caroline Fernanda Rocha, Daniele Barp, Isabella Bello Secco e Maria Cristina Neiva de Carvalho

Publicação:

Painel apresentado na Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia no mês de outubro de 2007 (Florianópolis-SC) resultante do projeto desenvolvido durante o estágio profissionalizante de conclusão do curso de Psicologia da PUCPR.

Projeto “Agentes da Água”.

 

 

Introdução

 

A Terra, considerada uma gigantesca massa azul, com 70% de sua superfície coberta por água, enfrenta a escassez deste recurso tão nobre, devido a dois problemas: má distribuição e má gestão. A má distribuição se deve à própria natureza, pois 97% da água está nos mares, sendo esta imprópria para o consumo e 2% nas calotas polares em forma de gelo ou neve, restando apenas 1% de água doce, disponível nos rios e lençóis freáticos. Já a má gestão é responsabilidade do próprio homem.

 

De acordo com Moser (1998) “a psicologia ambiental estuda a pessoa em seu contexto, tendo como tema central as inter-relações, e não somente as relações entre a pessoa e o meio ambiente físico e social” (p. 121). Leff (2001), afirma que a psicologia ambiental tem por objetivo analisar como as condições ambientais afetam as capacidades cognitivas, mobilizando os comportamentos sociais que causam impacto à saúde mental dos indivíduos; além disso, esse campo da psicologia pode contribuir para a análise das percepções e interpretações das pessoas sobre seu meio ambiente, vinculando-se ao terreno da psicologia social no estudo da formação de uma consciência ambiental e seus efeitos na mobilização dos atores sociais (p.187).

 

Num contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do ecossistema, coloca-se o desafio de envolver o conjunto de atores do universo educativo em todos os níveis, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de educadores e a integração da comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar.

 

 

 Objetivo

– Promover a modificação do comportamento de crianças com relação aos cuidados referentes à poluição e ao desperdício da água.

 

 

 

 

 

Método:

 

– Clientela: três turmas de 1ª série do Ensino Fundamental de uma Escola da rede Municipal da cidade de Curitiba-Paraná, sendo duas delas no segundo semestre do ano de 2006 como projeto piloto e uma no primeiro semestre de 2007.

 

Procedimentos:

Na etapa diagnóstica foram realizadas reuniões com a diretoria e professoras dos alunos, além de observações e dramatizações com os alunos, e por fim foram entregues questionários aos pais.

 

A etapa de intervenção ocorreu em aproximadamente dois meses, realizando-se grupos operativos em encontros semanais de uma hora e meia de duração. Para isso foram utilizados instrumentos e técnicas psicológicas e de outros campos do conhecimento.

 

Na etapa de avaliação foram novamente realizadas dramatizações com os alunos e observados seus comportamentos, além de serem enviados questionários aos pais com o objetivo de verificar as modificações dos comportamentos das crianças referentes ao consumo de água.

 

Resultados:

Os alunos modificaram seus comportamentos, bem como ampliaram a sua visão acerca da situação atual dos recursos hídricos do planeta, percebendo a necessidade de preservação dos mesmos. Algumas mudanças puderam ser observadas com maior riqueza no instrumento direcionado aos pais ou responsáveis como se pode observar em alguns dados importantes dos 37 questionários respondidos em 2006:

 

35 alunos – Passaram a utilizar a água de forma responsável;

35 alunos – Fecham a torneira para escovar os dentes;

22 alunos – Fecham a torneira enquanto ensaboam as mãos;

29 alunos – Diminuíram o tempo do banho;

18 alunos – Fecham o chuveiro para se ensaboar;

30 alunos – Apertam a descarga apenas uma vez.

Sendo que destes 37 questionários 31 responderam que os filhos da 1ª série comentavam em casa sobre o projeto “Agentes da Água”.

 

Os dados obtidos a partir dos 20 questionários aplicados em 2007 foram que seus filhos (alunos da 1ª série), estão fazendo uso responsável da água.

 

Destes 20 questionários verificou-se ainda que:

 

20 alunos – fecham a torneira enquanto escovam os dentes;

15 alunos – fecham a torneira enquanto ensaboam as mãos;

15 alunos – diminuíram o tempo do banho;

09 alunos – fecham o chuveiro para se ensaboar;

17 alunos – alunos dão a descarga apenas uma vez.

 

Dos 20 questionários 19 responderam ainda que os filhos da 1ª série comentavam sobre o projeto “Agentes da Água”. Pode-se dizer, portanto, que o objetivo geral de promover a modificação do comportamento de crianças com relação aos cuidados referentes à poluição e ao desperdício da água foi alcançado.

 

De acordo com Marin (2004), a educação ambiental pode ser considerada um elemento re-orientador da educação para um processo gerador de novos valores humanos, de justiça e paz. Além disso, foi observado o surgimento de um comportamento de cuidado e preservação do meio ambiente que, segundo Ribeiro e Carvalho (2004), é chamado de comportamento pró-ambiental, onde o homem não é considerado um receptor passivo de estímulos, nem como psicologicamente autônomo, mas sim como em relação indissociável com seu meio, modificando-se reciprocamente (p.178).

 

Discussão:

O comportamento das pessoas com relação à utilização da água trata-se de uma situação urgente em que diversos profissionais precisam atuar antes que os recursos hídricos potáveis se esgotem. Nessa direção, o processo de educação e reeducação deve se orientar de forma decisiva para formar as gerações atuais, não somente para aceitar a incerteza sobre o futuro das situações ambientais, mas para gerar um pensamento complexo e aberto às indeterminações, às mudanças, à diversidade, à possibilidade de construir e reconstruir num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação.

 

Com relação a este fato, constatou-se a importância de projetos ambientais nas fases iniciais do desenvolvimento humano, já que quanto mais novas as crianças forem, maior a plasticidade cerebral a influências ambientais.

 

Percebeu-se que um trabalho para modificação de comportamento e conscientização produzirá maiores e melhores resultados se desenvolvido a longo prazo, devido ao aprendizado que ocorrerá através da continuidade de uma resposta e sua conseqüência. Além disso, se verificou a necessidade da psicologia ambiental atuar de maneira interdisciplinar, integrando-se a biólogos, engenheiros ambientais, profissionais de comunicação social, dentre outros.

 

Cabe ressaltar que, mediante a situação do caos ambiental em que o mundo se encontra ações deste cunho deixam de ser emergentes e se tornam urgentes para a sobrevivência da vida na Terra. Sendo assim, atualmente é lançado um desafio para o profissional de psicologia: o de se enveredar em áreas urgentes de atuação, as quais estão voltadas para a relação do homem com o meio ambiente.

LEFF, E. (2001). Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. Rio de Janeiro: Vozes.

 

MOSER, G. (1997) Psicologia ambiental. Estudos de Psicologia. Natal, 28 (3), 121-130.

 

MARIN, A. A. Ética, moralidade e educação ambiental. Interciencia. Caracas, 29, 3, 2004. Acesso em 30 de maio de 2007 de www.scielo.br

 

RIBEIRO, M. J. F. X.; CARVALHO, A. B. G. C.; OLIVEIRA, A. C. B.. O estudo do comportamento pró- ambiental em uma perspectiva behaviorista. 2004. Acesso em 01 de março de 2007 de http://www.unitau.br/prppg/publica/humanas/download/behaviorista_v10_n2.pdf

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