O PAPEL DO PSICÓLOGO NA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Autor(a):
Juliana Zilli Bley

Publicação: artigo publicado na Revista “Contato” do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP/08), edição de set/out/2003, ano 24, n. 121, p.9.

 

 

De que lugar o psicólogo pode contribuir para a Responsabilidade Social Empresarial? A resposta é (relativamente) simples: de todos! Independente da posição hierárquica, do tipo de vínculo ou do nível de poder, o profissional da Psicologia pode contribuir significativamente para a prática da verdadeira “cidadania corporativa”.

 

Para que uma organização seja considerada socialmente responsável é necessário investir em cuidados para com a qualidade das relações que mantém com seus stakeholders, ou seja, com os diversos públicos que constituem o sistema organizacional (colaboradores, fornecedores, clientes, acionistas, pessoas da comunidade, concorrentes). Tornar essas relações mais humanas é uma das tarefas centrais daquilo que se chama de cidadania empresarial, o que indica ao psicólogo a “chave” para o entendimento do seu papel neste processo.

 

Mas como o psicólogo pode identificar esses fenômenos na prática e visualizar as possibilidades de atuação em RSE? Uma alternativa pode ser a perspectiva de análise apontada por Botomé (2002) para a organizar o entendimento dos tipos de contribuições possíveis. Para ele as ciências, entre elas a Psicologia, podem ter sua constituição conceituada sob a forma de âmbitos de atuação (Área de Conhecimento, Mercado de Trabalho e Campo de Atuação Profissional).

 

O conceito de Área de Conhecimento diz respeito a organizar o conhecimento existente ou em produção sobre um assunto ou fenômeno. Esse âmbito aplica-se à Psicologia na medida que possibilita sistematizar a produção de conhecimento sobre RSE. A contribuição se dá por meio da promoção de pesquisas, publicações, eventos científicos que buscam identificar os processos psicológicos presentes na RSE (nos níveis individual, grupal e organizacional), possibilitar inovações na prática psicológica neste segmento de atuação e colocar o conhecimento produzido a serviço de profissionais de outras áreas.

 

O Mercado de Trabalho da Psicologia é formado pelas oportunidades existentes de colocação e pelas práticas pertinentes ao psicólogo. Atuar com foco em RSE torna-se possível por meio das práticas conhecidas como, por exemplo, as de Gestão de Pessoas. Tais práticas são essenciais para a organização que procura consolidar-se como cidadã uma vez que sem políticas éticas fica difícil humanizar as relações de trabalho. Sua centralidade na cidadania corporativa também se dá pelo fato de muitas organizações escolherem esta área como responsável pela gestão de programas de Responsabilidade Social, atuando em projetos sociais e de voluntariado.

 

Como Campo de Atuação Profissional, que compreende as possibilidades de intervenções para além das práticas já conhecidas, o psicólogo pode orientar sua atuação para a identificação dos fenômenos psicológicos relativos à RSE e constituir novas e melhores formas de intervenção. Pressupõe dedicação por revelar possibilidades e assumir espaços pouco conhecidos, sem que para isso descaracterize seu foco de atuação. Para tanto, torna-se indispensável a capacitação constante e a coerência científica do profissional uma vez que a criatividade e o empreendedorismo, por si só, não são capazes de garantir a efetividade de uma intervenção. Para o psicólogo o principal exercício neste âmbito é o de identificar reais oportunidades de contribuição para a RSE de qualquer lugar que ocupe na organização.

 

O cenário corporativo vive um momento de certa instabilidade do paradigma da RSE. Já não se questiona mais sua importância para o desenvolvimento sustentável das organizações, mas se condena a exacerbação da cidadania empresarial como estratégia de marketing somente, num esforço “moderno” de agregar valor à marca sem que a imagem publicada reflita a realidade. Isso reitera a necessidade das pessoas que atuam nas organizações assumirem posturas mais coerentes com o desenvolvimento da sociedade em bases mais saudáveis e harmoniosas. Refletir sobre isso é uma tarefa que vai além das paredes do escritório.

 

Se a Responsabilidade Social se define pela forma como a organização se comporta, o psicólogo pode encontrar nessa nova forma de fazer negócios um amplo espaço de movimentação profissional uma vez que “comportamento” é algo que lhe diz respeito. Em qualquer dos âmbitos de atuação o psicólogo pode e deve contribuir auxiliando pessoas e organizações a trabalhar considerando as conseqüências de suas escolhas para si e para a sociedade. Não é preciso ser “Diretor de Responsabilidade Social” para que se possa ajudar a construir uma empresa verdadeiramente cidadã. Seja como estagiário, funcionário, gerente ou prestador de serviço, são muitos os meios pelos quais o profissional da Psicologia, utilizando sua expertise, pode incorporar o exercício da cidadania nas suas atividades e ser um agente de transformação da realidade organizacional.

 

ANTÓNIO, Firmin. Da filantropia à cidadania. Revista Exame, ed. 799, n. 17. São Paulo, 20/08/03.

 

BOTOMÉ, Sílvio Paulo. Responsabilidade social dos programas de pós-graduação e formação de novos cientistas e professores de nível superior: problemas e perspectivas. Em Desafios e Perspectivas do Ensino de Pós-Graduação no Setor Particular. Brasília: Funadesp, 2002.

 

MATTAR, Hélio. Os novos desafios da responsabilidade social empresarial. São Paulo: Ethos, 2001.

 

ZANELLI, José Carlos. O psicólogo nas organizações de trabalho: formação e atividades profissionais. Florianópolis: Paralelo 27, 1994.

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