Autor(a):
Julio Cezar Ferri Turbay CRP 08/06469

Psicólogo e Diretor de operações internacionais da Comportamento – Psicologia do Trabalho. Para contato: julio@comportamento.com.br

 

Publicação:
Os últimos 10 anos foram marcados por um crescimento espantoso de empresas buscando melhorar seus sistemas de segurança e saúde no trabalho. Estratégias de implantação de sistemas de gestão, processos de certificação e mesmo a aplicação de programa de segurança comportamental têm sido parte da agenda de discussões de todos os níveis das organizações e praticamente em quase todos os seguimentos.

Um processo comum que as organizações recorrem como ponto de partida para estes processos dão diagnósticos organizacionais focados em SSMA. E são as inúmeras as opções que estão disponíveis, o que leva muitas empresas a comprarem ou optarem por ferramentas que, nem sempre, atendem exatamente a demanda ou necessidade que eles identificaram. O objetivo deste artigo é apresentar alguns processos de diagnósticos existentes, sem a pretensão de esgotar o assunto, e provocar reflexões sobre o que estamos fazendo efetivamente com os resultados destes processos diagnósticos.

Se você alguma vez fez um exame solicitado por um médico, sem duvida nenhuma, seu coração bateu mais forte para abrir o envelope, ou que é mais comum hoje em dia, o site da internet com os dados relativos ao seu diagnóstico. É Muito gratificante quando ao ler os resultados nos damos conta que não temos nada. Mas e se o exame solicitado não está de acordo com a tua sintomatologia? Esse erro pode custar muito a uma pessoa e o mesmo pode acontecer quando tratamos de uma organização. O simples fato de ter uma informação não é e nunca vai ser a cura para os problemas.

Segundo Harrison (1994) um diagnóstico deve estar pautado em três facetas básicas que são o Processo que como ressaltado por ele deve estar muito focado na relação de confiança que se estabelece entre o cliente e quem vai realizar o diagnóstico.  A interpretação que é apresentada como o segundo fator de sucesso, pois esta deve estar baseada em uma clara definição do problema que se quer diagnosticar fato que deve ser tratado como um ponto de caminho crítico para o projeto de diagnóstico. E por fim o Método onde o autor ressalta a importância de se ter clareza nos métodos que serão utilizados e na disciplina para o seguimento deste processo.

Tendo em conta estes três fatores de sucesso já podemos fazer um primeiro questionamento. Sua organização ao contratar uma empresa externa para a realização do diagnóstico se assegura que estes elementos estão contemplados para o processo? Isso se aplica também para o caso de uma aplicação feita pelos profissionais internos da organização.

Um elemento essencial para se definir o processo de diagnóstico é determinar qual é o fenômeno que será pesquisado. Isso evita confusões comuns como, por exemplo, empresas que pedem uma pesquisa de clima de segurança para ver o nível de adesão dos líderes às ferramentas do sistema. Essa confusão tem sido mais comum do que se pensa. Sugere-se que toda organização antes de iniciar qualquer procedimento de diagnósticos primeiro defina o que exatamente quer saber?

No quadro a seguir o leitor poderá identificar alguns dos principais fenômenos e algumas possibilidades de métodos de diagnóstico.

Quadro 1: Relação entre Fenômenos a serem pesquisados e métodos possíveis

Fenômeno Objetivo A quem se aplica
1.       Aspectos psicossociais Entender como elementos psicossociais como Stress, características do trabalho, pressão, entre outros. (para maior detalhamento consultar: Método ISTAS 21: Manual para la evaluación de los riesgos psicosociales en el trabajo) Organizações que buscam entender de firma mais clara como os aspectos psicossociais estão influenciando sobre a performance de segurança principalmente na ocorrência ou no incremento das doenças ocupacionais. Considera-se extremamente recomendado para as organizações que estão iniciando programas de saúde mental.
2.       Estresse ocupacional Mesmo sendo parte dos aspectos psicossociais o estresse é um fenômeno que possui muitas pesquisas específicas com o desenvolvimento de excelentes materiais e processos de diagnóstico específicos. Empresas de alta complexidade ou com grande apelo de atendimento ao público como hospitais ou área de saúde em geral. Pode ser o ponto de partida ideal para o desenho de um programa de qualidade de vida.
3.       Aderência a ferramentas de SSMA Procura pesquisar o nível de compromisso dos líderes e equipes na utilização de ferramentas do sistema de Segurança e Saúde. A base deste processo esta em entender como se deu o ciclo PDCA para a implantação. Organizações que implantam ferramentas de segurança e não conseguem atingir os resultados propostos. Exemplo de ferramentas: APR, DDS, Observação e abordagem comportamental. Essa pratica de diagnóstico é mais recomendada para empresas que tem dificuldade com uma ou algumas ferramentas. Se todas as ferramentas apresentam dificuldades o procedimento de pesquisa deve ser revisto para outro fenômeno.
4.       Pesquisa de Clima de Segurança Por se tratar de uma pesquisa de clima ela foca em identificar as percepções compartilhadas dos trabalhadores para o fenômenos segurança sob a ótica de quatro variáveis específicas: 1. Como a liderança faz segurança, 2. Como meus colegas de trabalho fazem segurança, 3. Como eu faço a segurança (auto avaliação) e 4. Como a empresa faz segurança no dia a dia. Aplica-se as empresas que precisam entender nível de favorabilidade para a implantação de praticas e sistemas de segurança. Permite ver a tendência das opiniões dos trabalhadores para variáveis específicas. Assim como o estresse possui uma vasta bibliografia a respeito se recomenda que estes processos tenham como base as ferramentas desenvolvidas pela Universidad de Valencia (www.uv.es/seguridadlaboral) e nos questionários da séria Valencia Prevacc. Para um maior entendimento da evolução do conceito de Clima de segurança se recomenda a leitura do artigo de Turbay (2007) que faz um resgate histórico do conceito de Clima de Segurança e das principais contribuições do autores ao modelo atual.
5.       Cultura de Segurança Procura entender elementos relacionados a forma como a organização faz segurança ao longo dos últimos anos. Ajuda a definir de forma clara o estágio de maturidade em segurança da empresa. A metodologia esta debruçadas em estratégias qualitativas e protocolos de observação. Cada modelo propõem diferentes tipos de tipologias culturais (Alcover, 2008)

Auxilia a organização a entender nível de maturidade em segurança o que dá preciosos inputs para a definição de plano de trabalho ou até mesmo a um plano diretor em segurança. Um dos modelos com maior numero de publicações e pesquisas é o baseada no modelo do Hearts and Minds do Energy Institute da Inglaterra. Para maiores informações o artigo de Hudson et als (2000) ou no site do Energy Institute http://heartsandminds.energyinst.org/

 

 

6.       Clima e Cultura de Segurança Um diagnóstico focado nestes dois fenômenos pode trazer grandes ganhos para organizações que querem além de entender a favorabilidade de seu processo de segurança como isso tem afetado a performance das praticas já consolidadas. Organizações que buscam melhoria contínua em seus processos de segurança. Os dados deste tipo de pesquisa tem alto impacto para a alta administração, pois permite desenhar estratégias adequadas para o nível de maturidade e para as barreiras atuais de segurança.
7.       Perfil de liderança para a segurança Identificar o perfil de atuação da liderança levando em conta as características de liderança positiva, elementos de habilidades sociais e a performance de segurança Empresas que buscam formas de capacitação diferenciadas para os seus líderes.
8.       Cultura de Valores Identificar a cultura de valores da empresa, equipes e líderes e qual a percepção das pessoas em relação a segurança do trabalho Empresas que buscam formas inovadoras de avaliar o valor segurança ou que de alguma maneira já têm a crença que a segurança é percebida como valor para seus trabalhadores e líderes. O modelo recomendado neste caso é o proposto por Barret (2014)
9.       Governança trabalhista/Conformidade legal Procura entender o nível de atendimento legal de 7 aspectos básicos e a segurança faz parte destes pilares. Permite a empresas diagnósticos de maturidade também baseada nas tipologias culturais e de cumprimento de aspectos legais e boas praticas de Segurança. Pode ter uma aplicação muito proveitosa em processos de aquisição e fusão. Recomenda-se pra entender melhor este processo o site do IBGTR – Instituto Brasileiro de Governança Trabalhista. www.ibgtr.com.br
10.   Sistema de gestão de segurança Entender o nível de compreensão do Sistema de Gestão e sua credibilidade para todos os públicos da organização Tem grande impacto para as áreas corporativas de grande empresas para que possam direcionar de forma adequada seus esforços no alinhamento do Sistema de Gestão. Não tem função de certificação, mas permite aprofundamento no modelo existente. As metodologias também estão baseadas em criação de protocolos de observação de praticas.

 

Seguramente outros fenômenos podem ser listados aqui neste artigo, porém temos com essa arquitetura proposta os principais fenômenos básicos que toda organização deve se deter para aperfeiçoar sua forma de solicitar ou mesmo desenhar processos de diagnóstico em SSMA.

Algumas considerações

Quando temos melhores condições de determinar o que queremos investigar os dados, análises e métodos se adaptarão e trarão melhores resultados para todos.

Vale ressaltar que em tempos de crise um diagnóstico adequado permite investimentos certeiros gerando menores riscos no que se refere a definição de planos de ação e também permite que as organizações sejam mais efetivas na gestão de seus riscos. Se levamos em consideração a proposta preventiva que explicita que a eficiência do processo de SSMA deve estar baseado em um bom equilíbrio nos aspectos de condições de trabalho, sistemas de gestão e os fatores humanos, já teremos desde ai uma série de elementos que devemos estar atentos para a definição da estratégia diagnóstica.

É importante que as organizações também levem em conta seus diagnósticos básicos como o PPRA o PCMSO e os tantos outros programas exigidos por lei que nos permitem (quando bem feitos e utilizados de forma adequada) identificar práticas preventivas e necessárias para o bem estar e a segurança de nossos trabalhadores. As organizações já possuem muitas ferramentas e percebe-se que muitas vezes é uma questão de debruçar-se sobre estes resultados e informações para realizar ações efetivas. Ter como foco o constante PDCA destas praticas pode ser uma saída muito boa para o entendimento dos problemas.

Os resultados de um diagnóstico devem ser utilizados de forma adequada e constante. Afinal quando fazemos uma pesquisa na organização já temos um ponto de partida comparativo para no futuro descobrirmos se evoluímos ou não com as ações propostas. Ao se esconder as oportunidades e ameaças descobertas por um processo diagnóstico, ou mesmo não ouvi-las com a devida atenção estamos sendo coniventes com os próximos acidentes em nossas empresas.

A complexidade da cultura de uma organização pode ser muito melhor entendida se as práticas de pesquisa forem adequadas. Por isso, trate os processos diagnósticos de maneira estratégica e se a empresa pretende que este processo tenha a melhor performance envolva a alta administração e entenda que um diagnóstico mesmo focado em SSMA pode mostrar muitas fragilidades da sua organização como um todo.

Então para finalizar pergunte-se sabemos de fato o que nossa organização pretende diagnosticar em SSMA?

 

 

 

Referências Bibliográficas

Alcover, C. M. (2008) Cultura y clima Organizacional en: Gil, F. y Alcover, C. M. Introducción a la psicología de las organizaciones. Alianza Editorial.

Barret, R. (2014). A organização dirigida por Valores: Liberando o potencial humano para a performance e a lucratividade. Ed. Campus.

Harrison, M. I. (1994). Diagnosing Organizations: Methods, Models, and Processes. Second edition.

Hudson P.T.W., van der Graaf, G.C., Parker, D., Lawton, R. & Verschuur, W.L.G. (2000) HSE tools: Which tools are appropriate? In Proceedings SPE International Conference on Health Safety and Environment in Oil and Gas Exploration and Production. Richardson TX: Society of Petroleum Engineers

Meliá, J. L., (2004). Batería Valencia PREVACC: Instrumentos diagnósticos para la prevención de accidentes laborales. Valencia. Ed. Cristóbal Serrano.

Moncada, S.; Llorens C.; Kristensen, T. S. (2002) Método ISTAS 21: Manual para la evaluación de los riesgos psicosociales en el trabajo. Paralelo Edicion SA.

Turbay, J. (2007). Uma revisão teórica acerca do conceito de Clima de Segurança. Artigo apresentado na PREVENUL – Porto Alegre 2007.

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